domingo, 13 de março de 2011

Notícias de Março 05 - Segundo The economist, sucesso chinês se deve mais ao setor privado que à intervenção governamental.

Notícia 5 - O sucesso da economia chinesa não está na ação mais presente do Estado, mas no seu setor privado (The Economist, 10/03/2011)
Essa matéria, também do The Economist, me lembrou o malabarismo feito pelo Banco Mundial no relatório de 1993, The Asian Miracle. Neste relatório (que comento no texto que colocarei em breve sobre a justificativa de se discutir política industrial no Brasil hoje), o Banco Mundial tinha que encarar o dinamismo da economia asiática nos anos 1970 e 1980, sem negar o Consenso de Washington. Tarefa difícil diante do desprezo dos países em questão, com Japão à frente, diante das recomendações de liberdade ao mercado e saída do Estado da economia. A solução foi vincular o dinamismo asiático às características idiosincráticas da cultura oriental, de base confucionista. Ou seja, não transmissível a outros países, diferentemente do Consenso de Washington, que daria certo (sic!) em qualquer país. Na reportagem do The Economist, afirma-se que, diferente do que a maioria pensa, o sucesso chinês, com seu crescimento constante de dois dígitos, não se deve tantos aos burocratas do governo e seu apoio às empresas (diga-se de passagem, que tem sua importancia reconhecida no texto), mais sim aos empreendedores chineses. A matéria comprova a afirmação com dados como o de que 70% do PIB da China é de responsabilidade de empresas não majoritariamente estatais, situação oposta a vivida há três décadas, quando praticamente todo PIB era gerado por empresas estatais. Outra informação que apoia a tese é de que apenas 10% das empresas chinesas são estatais. O artigo aponta como principal problema um dos fatores desse dinamismo privado chinês que é a falta de uma base institucional forte, principalmente no que toca aos direitos trabalhistas (que permite a exploração de trabalhadores) e aos direitos de propriedade intelectual (que desistimula a inovação). Trata-se de um libelo contrário ao que o jornal chama de "Consenso de Beijing" que prega que o capitalismo dirigido pelo Estado e o controle político rigoroso formam o elixir do crescimento econômico. O jornal conclui dizendo que o "Capitalismo com Características Chinesas" funciona muito mais por causa do capitatalismo do que por causa das características chinesas. Segue o link da matéria:
http://www.economist.com/node/18332610

Sinceramente, considerando que o clima de questionamento do Consenso de Washington em 2011 é muito maior do que em 1993 (Após a crise de 2008, o que tem de obituário do neoliberalismo não é pouco não!), trata-se de uma argumentação bastante ousada. Afinal, se na década de 1990, totalmente galvanizada em torno do fim do socialismo real com os eventos de 1989/1991), o Banco Mundial teve que lançar mão do confucionismo para justificar o dinamismo asiático (ou seja, dizia exatamente o oposto do The Economist hoje, que o capitalismo funcionava na Ásia por causa de características intrínsecas à Ásia e não ao capitalismo), dizer hoje, depois das sucessivas crises financeiras dos anos 1990 e principalmente da crise de 2008, que a China cresce muito mais em função das forças de mercado do que da direção estatal da sua economia parece uma afirmação bastante audaciosa. Se o crescimento chinês fosse tão "market-led", porque a condução governamental da economia tem sido tão questionada na OMC? Certamente essa condução governamental não seria tão incômoda caso ela fosse tão inócua para o crescimento chinês. Em pelo menos dois casos, a China saiu perdedora em ações na OMC. No caso das tarifas sobre peças automobilísticas (ver link
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2008/02/14/china_condenada_pela_omc-425646411.asp), onde ela foi a Reclamada, sua política fo condenada em 2008. Suas esperanças de "dar o troco" foram frustradas em 2010, desde vez, como Reclamante, contra a política americana para tubos, pneus e embalagens fabricadas na China (ver link:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2010/10/22/internas_economia,219436/index.shtml). Assim, ainda que a produção efetiva que compõe o PIB chinês não seja efetivamente fabricada por empresas estatais, é difícil não considerar que as taxas de crescimento desse PIB não seja obra, em sua maior parte, das políticas industrial e de comércio chinesas, tão questionadas (sem quê nem por quê?) na OMC.

Um excelente contraponto a essa visão é a do sempre instigante Dani Rodrik. Rodrik é um dos principais pensadores mundiais sobre políticas industrial, e um defensor delas. Uma síntese da sua posição pode ser vista num artigo publicado no jornal Valor Econômico (13/04/2010), sobre a volta da Política Industrial à agenda governamental. E não só no Brasil. Segundo a introdução do artigo, os governos da França (sempre considerado interventor) e da Inglaterra (sempre, porém erroneamento, segundo H.J. Chang, considerado liberal) estão usando, e muito, políticas industriais. Até economistas do Banco Mundial (quem diria isso na década de 1980 e de 1990, antes do "turn around" de 1997), como Justin Lin, e a Consultoria McKinsey, estão espalhando os bons augúrios trazidos pelas políticas industriais ao redor do mundo. Veja o link do artigo do jornal Valor Econômico:
http://www.observatoriousp.pro.br/a-volta-da-politica-industrial/
Além das posições de Rodrik, favoráveis à existência de políticas industriais (semelhante à minha posição, pelo menos antes de aprofundar a pesquisa de campo), uma outra qualidade dele é disponibilidade que ele dá aos seus textos e produções intelectuais no blog:
http://rodrik.typepad.com/
E que venha o bom combate de idéias!

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